Arte de capa por David Beat
Saindo direto do forno, o mais recente projeto de Leonardo Maciel. Um EP de nome CRATERA (https://youtu.be/qG_0Z6e15eY) com 5 faixas cheias de universalidades. Arte ficou por conta de David Beat baseado na ideia de "infinidade-cíclica". Geralmente eu faço as resenhas, mas optei por deixar dessa vez a responsabilidade pelo próprio resenhado, segue o relato da composição desse mais novo projeto.
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“Segundo o dicionário Oxford
Languages, ‘linguagem é, qualquer meio sistemático de comunicar ideias através
de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais etc’”. Talvez esta seja
uma definição adequada para o que CRATERA, EP de lançamento do projeto musical
MACIEL, tenta exercer enquanto trabalho artístico.
Numa tentativa de criar uma própria, o
trabalho realiza uma ponte entre passado e futuro do que há de se tornar a
estética do "Estúdio Mobral" e do selo "Música Brasileira".
Composto em sua maior parte de releituras de músicas antigas e engavetadas por
anos, o trabalho flerta com diversos signos sonoros, traduzidos pelo rock de
guitarra em cinco faixas.
Gravado no meio de um processo de mudanças
globais e locais, entre Setembro e Novembro de 2021, CRATERA reflete sobre o
quão cíclica é nossa vida, ao passo que traduz o que sobra quando não
vivenciamos tais experiências: apenas um vazio magistral. Apenas podemos nos
compreender como seres humanos quando erramos, quando somos tóxicos com os
outros e consigo mesmo, quando aprendemos a sorrir para a morte e chorar para a
vida, quando escolhemos abdicar de tudo o que nos faz bem para, enfim, parar de
praticar o mal.
A faixa de abertura, CACOS DE VIDRO, gravada e
composta originalmente em Resende - RJ em meados de 2015, exprime a auto
sabotagem realizada na transição entre a perda da inocência e o ganho de
responsabilidades (afetivas, morais, acadêmicas, trabalhistas, etc), e como
esses dois extremos, ao se colidirem, podem gerar conflitos que exigem
maturidade e mudanças comportamentais para serem sanados, a fim de conseguir
conciliar a expectativa da liberdade com o aceitável para com as relações
estabelecidas.
ERROS, canção originalmente de 2012, teve toda
a sua liricidade revisitada para que pudesse tratar sobre relacionamentos
abusivos em dois momentos: o de ruptura, com entendimento de que o eu-lírico
conseguirá lidar com novos relacionamentos de maneira mais saudável para si
própria; e o de retorno ao ponto de toxicidade, estabelecendo que, mesmo
compreendendo sua situação na relação, aceita-a.
ÚLTIMA RODADA, canção de 2016 da banda
DICOTOMIA, é uma réplica aos questionamentos estabelecidos pelo eu-lírico de
ERROS, em que é revelado que a autoestima elevada do personagem desta canção e
suas suposições são o único meio de conquistar o narrador da canção anterior,
passando por cima das próprias crenças do mesmo a fim de estabelecer uma
dominância na relação.
PRIMEIRO DE AGOSTO, também registrado no
trabalho SIMBIOSE da banda DICOTOMIA, relata o fim das amizades como um
processo natural da vida, seja por seguirem caminhos próprios ou por pura
incongruência do destino. A falta de empatia e reconhecimento nas relações
estabelecidas previamente leva a falsos comportamentos, falsos risos e falsos
dizeres do que juramos ser infindável, causando um desgaste para atender um
passado ilusório. Aquele verão que não choveu é uma parte fictícia de nossas
mentes, pois em todo verão chove.
COLINAS é a única canção composta em 2021. Ela
fala sobre amor livre e pleno em sua mais pura definição. Longe da cidade,
longe das tarefas, longe de tudo o de ruim que já passou, o eu-lírico pode
transitar entre as outras quatro faixas agora feliz por se redescobrir na mais
alta colina, junto com quem verdadeiramente quer estar ao seu lado: sua amada
de corpo, mente e alma. Como conceito, COLINAS agride tudo aquilo que o tornou
tóxico, todas as suas suposições sobre o que é 'a vida, o universo, e tudo mais...
' e pode, por fim, se purificar através do amor.
Portanto, CRATERA é um primeiro álbum que
explora relações amorosas, afetivas e emocionais sob uma ótica polida pelo
tempo. “Tais canções flertam com as transições bruscas que ocorrem o tempo todo
em nossas vidas e que precisamos nos reinventar para lidar com elas, seja como
forma de exercício de empatia ou cultivo de esperança de resgatar nossa própria
humanidade.”
MACIEL, Leonardo (2021)
CONTATOS: estudiomobral@gmail.com
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