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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Saudades


Me morde a saudade
Me morde, come meu coração
O sentimento canibal mastiga
Me morde e cospe em palavras

Falas mudas, vozes ausentes
Silêncios vistos a olhos nus!
Me morde a boca os versos
Estrofes-navalhas me cortam!

Me morde essa saudade-faca
Retalha o que há dentro de mim
Me morde o pensamento gritando

Saindo da língua rolando
Desgovernadas palavras-rudes
Me morde o tempo todo essa saudade  

Junkie



Ela injetou pequenas doses de heroína
E seus poros absorveram imagens
Distorcidas explodindo em sua mente
Estava tão eufórica e sorrindo
  
Sim! Ela sorria como um anjo
Exalando cheiro de bebê renascido
Ela estava flutuando por planetas
Indo longe demais, sumindo na órbita!

 Seu corpo e seu glamour exposto
Revelavam sensualidade órgasmica
E mesmo gesto sutis masturbavam-se

  
Ela estava indo longe demais
Pintando seus cabelos, quebrando objetos
Injetando mais uma dose, ficando louca

Lucidez em chagas



Pra quê sirvo se vivo nesta lama?
Nódoa fétida, cuspe de chagas!
Estúpidas reentrâncias que disforme
Que horror meu corpo a quem seduz?

Sou nada! Sou puto encarcerado na angústia
Diva dos mais horrendos desprazeres
Que carcomem meu Ser em plena lucidez
Meu paladar é um salivar de raivas clínicas!

Invivo nesta merda! Malsã está o pensamento
Desse Ser ignoto repelido em sua essência
Sou um vício de tristezas patológicas!

Alegrai-vos, dizem! E vos digo amigos:
Infecundo, estéria é a alegria em mim,
Sou tão improfícuo e tão perto do suicídio!

Espirro


Serei só carcaça dentro do esquife
Apodrecendo a cada festejo de vermes
Minha ossatura não será ornamento
Porém, nela os vermes irão brincar!

Vitalidade me abandona, estou pálido!
As flores de meus anos já são murchas
A vida é uma fatalidade sem escape
E morrer dissipará todo este sofrimento?

Cansado, escasso, estou vazio! Sou hermético!
Estou cada vez mais próximo de um cadáver
Já disse em outro poema que sou anoréxico?

Espirro dores, tormentas que carcomem.
Como posso existir nesse mundo desbotado?
Espirro meu ser... Esvaeço? Morrei só?
                                               (06/04/08)

Corpo pálido


Estou dormindo na tumba de um sonho
Sou uma solidão até que me desperte
Meu corpo está ferido por palavras
Será que sempre estive sangrando?


Meu sorrir não tem esboço algum
A tristeza é cinza e desconfortável
Preciso ir, pois sempre estive perdendo
Ninguém poderia me olhar nos olhos


Só enxergariam a raiz crescente do vazio
Estou preso dentro desse invólucro!
Não poderia me cortar, não seria seguro!


Preciso ir, não estou seguro!
Não é preciso respirar, nada importa!
Tudo é nítido e estarei pálido...

Mother death


Estou aqui e o que vejo me deprime!
Não preciso provar nada, estou cansado!
Olhando ao redor as mesmas coisas
Ontem ficou distante; o sol nasce.

Eu deveria ter ido embora logo
Estou gastando tempo e isso é fútil
Cresci ouvindo coisas tão absurdas
Jamais tive o amor sincero.

Me apaixonei por uma garota
Estou tão distante e continua bem aqui
Sempre em minha mente antes de dormir

Adoraria sonhar, mas se tornou difícil
Todos os sonhos quebrados como um espelho
Sabe, sinto falta de mim e isso dói!

Fim sem retorno


A vida é um veneno mórbido
Te matando lenta e cruelmente!
Só sinto angústia e desespero
Estou completamente vazio!

Não me dê outra merda de sonho!
Estou cansado de ilusões espelho
Realidade crua cegando meus olhos
Percebo isso todos os dias e dói

Como uma faca rasgando as entranhas
Como um martelo em sua cabeça
Viver se tornou um vício que destrói


Alguém deveria ter me alertado!
E você olha pra tudo e todos
E tem certeza de que não há retorno...

Li ter(á)tura

Literatura que dura
expondo a dureza do duro
Dos pés de pedra do menino
Que caminha pelas ruas

Quem atura a dura
Dos preços das passagens?
Roubando cada centavo, no duro!
O capitalismo é um durad/ouro

Enquanto o povo na maior dureza
morre duro de fome de educação
Até quando, até quando, não é pergunta!

É certeza durante tantas
Diariamente ver renovadas ditaduras
E o menino descalço no concreto, duro!

                    Só pra citar Paulo Leminski


Poema amarelo

Cá fico pensando comigo:
Quando o inverno vier
Vento/gelo em teu rosto
Vento/soprando em teu coração

Vento/beijo em teus lábios
Quem irá te aquecer  a pele?
Quem irá desfrutar o teu sorrir?
 Quem irá deleitar em tua boca?

Só sei que sou todo sincero/agora
Tudo, tudo, todo meu ensejo
Embrulhar como presente e

Me senti bem perto de teus olhos
Transfigurado em um poema amarelo
Amarelo/Sol e calmo/suave te aquecer!

Eu que

Eu que não bebo mais
Eu que nunca fumei
Eu que tô sem dinheiro
Eu que ao mesmo... Amo/odeio

Eu que não gosto de religião
Eu que sou ateu por não acreditar
Eu que não pertenço a nada
Eu que cuspo, sangro, canso!

Eu que não tenho nada além
Eu que só tenho essa vida
Eu que não sonho direito

Eu que não tenho nada além
Eu que só tenho poesia
Como esposa de todos os dias!